sexta-feira, 20 de junho de 2014

Apito Final

Imagem por: We Heart It
E constantemente era assim, você no campo envolvido no jogo e eu na arquibancada concentrando boas energias, desejando sua vitória. Não que eu entendesse o que era um impedimento, pênalti ou zagueiro, mas de amor eu sempre entendi, principalmente desse, que foi o primeiro. Gol! Você pula, olha em meus olhos e faz um coração com as mãos, não tinha momento mais contagiante e era por isso que eu largava tudo, mesmo com tantos trabalhos para fazer o que me interessava mesmo, era torcer por você. Com a camisa suada, encharcado de orgulho, beijava-me, dizia-me o quão importante foi a minha participação naquela partida, como não delirar? Ser tiete de jogador de futebol, o desejo de toda guria. Eu não era só isso, significava muito mais, fui sua perna direita e, até hoje, não entendo como virei a bola deixada pra escanteio.

Foi naquele fatídico dia, o telefone tocou e relutei em acreditar, um time grande te queria. Eu fiquei tão feliz, mais do que devia. A mala era pequena para mim e seus sonhos grandes demais para nós dois. Permaneci ali, vendo-te partir junto com meu coração, era um barulho infernal de estilhaçamento, quebrando-me inteira por dentro.

Ficávamos deitados fitando o teto, eu narrando o jogo com deleite, prevendo como seria seu desempenho, tendo a certeza de que você chegaria longe, garoto de sucesso, e foi, pra bem longe daqui. Sem nem pensar duas vezes, porque maria chuteira a gente encontra em qualquer lugar. Se eu tivesse escutado quando me alertaram, prestado atenção nos sinais que me dava quando tentava incluir-me em seus planos, aquela falha na sua expressão dizia que amores vêm e vão, talvez agora eu conseguisse assistir a copa até o fim.

Não importou a quantos apitos finais sobrevivemos juntos, entre lágrimas e abraços, eu te confortando após as derrotas, xingando o juiz por tamanha injustiça, você não quis saber das nossas histórias, mostrou-me o cartão vermelho e passou pela porta. Ainda torço pelo seu êxito, esperando que sua carreira não seja interrompida por uma lesão, igual a essa que ficou em meu coração. Porque ao apaixonar-me por um jogador ninguém lembrou-me que, quando se trata de amor e futebol, independentemente do lance, você sofre com a perda.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Metades

Eu não gosto de metades, por isso te quis inteiramente. Não gosto de dividir, é egoísmo meu, mas isso sou capaz de assumir. Nunca gostei do 0,5, principalmente quando aparecia 1/2, contudo o que eu odiei profundamente foi quando você só entregou-se para mim nesse valor. Fiz de tudo para transformar essa simples fração num relacionamento cheio de multiplicações, e se hoje estamos afastados, rancorosos e desajustados é porque não sou de exatas, não consigo insistir em algo sabendo que não me levará a nada. 

Então foi assim o nosso fim. E agora estou aqui, cheia de ilusões que ninguém pode realizar, uma consequência de conviver contigo, já não sou um todo, estou dividida em meios, quartos, sextos ou oitavos, sendo que tudo o que quero é chegar na raiz da nossa equação. 

E foi assim que eu passei a odiar matemática, não gostar de metades, não pensar em ti. Do mesmo jeito que comecei a prezar-me mais e entregar-me menos. Acho que logo as coisas ajeitam-se, cada um toma seu rumo e o destino encarrega-se de resolver o que não consegui, porque numa divisão de pessoas diferentes, sempre sobra um tanto. O que sobrou de mim foi um amor, íntegro, para oferecer. O que ficou para você, eu não quero nem saber.  

Afinal, sempre fui de humanas o suficiente para entender o que W. Shakespeare escreveu: "Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém. Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência para que a vida faça o resto..." É, ainda bem que compreendi.